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"A vida tem caminhos estranhos, tortuosos às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante..." (Caio F. Abreu)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O "seo" Aureliano e eu...


Os dias começavam muito cedo para nós no CECRED. Às cinco e meia, após os galos cantarem suas melodias de "anunciação" da alvorada, eu e "seo" Aureliano iniciávamos a mesma "ladainha" : enquanto eu me lavava, ele preparava o café; em seguida íamos buscar o pão caseiro e fresco na cozinha do HST (Hospital Santa Teresa), para onde depois nos encaminharíamos objetivando auxiliar nas tarefas (até as 08:30). Dávamos uma passada pelas nossas plantações, observando se nenhuma "praga" havia se instalado, molhávamos os legumes e verduras (estas principalmente). Após o auxílio logístico na cozinha, retornávamos aos nossos afazeres (capinar, arrumar os canteiros, estercar, semeadura...).

Nas laterais e no fundo da casa em que nos "hospedávamos", a área de terra à cultivar e cultivada era de aproximadamente 1 hectare (10.000 m2). Ainda lembro o primeiro dia em que fui "morar" na casa cedida pelo HST para os internos do Cecred. A maior parte do terreno estava cheia de mato, ervas daninhas, e pequenas árvores. Olhando para aquele cenário, juro que me deu uma angústia, ao tempo em que já me julgava incapaz de fazer algo que pudesse melhorar aquele "visual". Foi quando "seo" Aureliano, de 69 anos, veio me fazer companhia...E aí tudo mudou...

Ele era aquele típico roceiro, o homem do campo, baixo, atarracado, as mãos calejadas, a pele enrugada mas firme, e queimada do sol. Conhecia pesca, caça, flores, campos, construções e, principalmente, VIDA e GENTE ! Com ele, passei os 3 meses mais fecundos de minha vida. Ainda lembro de seu sorriso frouxo antes de dormirmos, quando eu apanhava um livro para tentar conciliar o sono (nem era necessário visto o desgaste físico do dia-a-dia), e ele, na sua mansuetude, falava : rapaz, como tu gosta desse troço de leitura né ? Não embaraia tudo as letrinha agora di noite ? e ria que se acabava...virava pro lado, me dava um boa noite acompanhado de um Deus te dê um bom sono e, ...dormia...pesadamente...um ritual diário, às 21:00 hrs, quando "apagávamos", para acordar cedinho e ir à lida, como ele falava...

Tu deve estar bem acompanhado aí em cima "Seo" Aureliano...deve sim...os anjos devem estar incomodados porque certamente o senhor tá querendo fazer as tarefas deles...e Deus agradecendo-o por ter sido um bom filho, pai, avô, e AMIGO, cá na Terra...

Beijos meu véio...a gente se vê por aí... 

Ps.: este é o último post do dia...ainda bem, porque escrever sobre o véio Aureliano foi forte demais para este coração...foi sim...

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