Aconteceu na Avenida Copacabana, esquina de Santa Clara. Uma jovem senhora chamou o guarda e apontou o homem, encostado a um poste:
— Prenda este homem, que ele está se portando inconvenientemente.Era um homem magro, pálido, vestido em casimira velhinha. Não tinha cara de gente má. Ao contrário, seus olhos eram doces e mendigos. O policial segurou o homem pela lapela. O homem não se mexeu. Apenas levantou os olhos e perguntou:- Por quê?A senhora estava uma fúria e dizia num fôlego só:— Há uma hora este cidadão me segue. Começou no lotação. Desceu quando eu desci. Entrei numa loja e ele entrou também. Andei um quarteirão e ele andou também. Entrei no mercadinho e ele entrou também...— E lhe disse alguma coisa?— Não. Só olhava.O guarda soltou a lapela do homem. O homem agradeceu. O guarda dirigiu-se ainda à mulher:— Mas ele só olhava?— Sim. Mas olhava de maneira obscena.O guarda perguntou, então, ao homem:— Você olhava de maneira obscena?— Sim. Não sei mentir. Mas qualquer um no meu lugar faria o mesmo. 0 senhor já viu ela andar?
0 guarda viu depois, quando a mulher desistiu da prisão do seu espectador e foi andando. Não se deve explicar muito, mas é preciso que se diga: era uma moça brasileira. Uma moça de formato brasileiro, com movimentos brasileiríssimos. Dessas que deviam ter, como certos automóveis, uma tabuleta às costas, onde se lesse: "Amaciando".(Antonio Maria - 08/01/60 - O ANDAR - Obra : Benditam sejam as moças; crônicas do autor)
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