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"A vida tem caminhos estranhos, tortuosos às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante..." (Caio F. Abreu)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Onde você estiver...

- “Por um momento / pensar que você pensa em mim”. Sim, um verso de Roberto e Erasmo como mote dessa crônica inviável de sempre. Não importa com quem estejas mais ou menos feliz ou vagues qual uma zumbi-metal, mas, no nosso orgulho macho, o que vale é ter essa importância mínima dependurada no cocuruto da fêmea, qual uma criança num balancê do parque.

Nem carece da soberba do Sr. Detalhes, aquele, dos mesmos geniais compositores, que pedia, mais orgulhoso ainda, para que a nêga não dissesse seu nome sem querer para a pessoa errada. Como se toda a humanidade, noves fora ele, fosse um equívoco. Pense num Ego tamanho família, Cajuína São Geraldo, o melhor refrigerante do mundo, de dois litros, coisa fina de Juazeiro do Norte.

Ah, pouco importa que tu andes, de novo amor, nova paixão, toda contente. O que vale é pensar que você pensa em mim, o resto é ontem e as perdições do mundo.

Civilizadíssimos, entendemos quando não tem mais volta, até já estamos com outros enxerimentos e paixonites de veraneio, mas, na buena, o que vale é a canção, o mantra, a ilusão derretida, o fio de manteiga que escorre ainda do nosso último tango em Paris ou forró no Agreste – neste caso com manteiga de garrafa, tão mais derretidinha de ao ponto de desmanchar sobre a tapioca moral da existência.

Onde você estiver, não se esqueça de mim !

Como vivemos desse fiapo de nada!!! Machos e fêmeas. Seria o orgulho de não ser apagado da memória cada vez mais fraca do outro?

Amor é Alzheimer.

Por isso que muitas vezes, como diz minha amiga, professora, mestra e doutora Luciana Araújo, não há telefonema no dia seguinte. Nunca é por maldade. Todo esquecimento tem álibi e diagnóstico.

Por um momento, pensar que você pensa em mim. Basta isso, mesmo com o teu silêncio, como nunca tivesse me visto, nem boas festas e feliz ano novo, pôxa, que gelo baiano, mineiro, siberiano, londrino.

De que adiantou eu ter quebrado tudo e ser um monstro? Um animal precisa ser reconhecido como tal. O resto é psiquiatria e química a serviço da vida.

Não te peço nada, sequer o protocolo das datas, feliz aniversário etc, quero apenas que, vagamente, por um momento você pense em mim e resmungue, baixinho: filho da p…, canalha, que lindo que deu tudo certo e depois tudo errado...

(Xico Sá - jornalista, nasceu no Cariri, em 1963, e foi criado no Recife. Atualmente, vive em São Paulo. Trabalhou por 14 anos no jornal Folha de S.Paulo e já passou pela revista Veja).



2 comentários:

Daniella Dal'Comune disse...

Olá!
Um dia eu queria sentir esse tal 'amor' que canta o cantor, que exalta o poeta, que ilude os frágeis e os fortes. O amor tornou-se também comércio - mas isso não é novidade.
Mas falando a respeito do "nao se esqueça de mim". ´e mais uma maneira de justificar nossa existência, de queremos ser maiores e mais especiais. Assim, dizer que não passa em branco na vida de alguem pelo tão únicos que somos. Mas, esse querer ser querido é mais uma ilusão. Colecionar migalhas de afeição alheia, não preenche vazio algum.

Obrigada pela visita e pelas palavras gentis. Adorei.

abraços

Daniella Dal'Comune disse...

Essa frase não me sai da kbça:"De ilusão também se vive". E se tirar a ilusão pode restar tão pouco...que até as migalhas nos fariam falta.

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